09 set Impermanência: Mindfulness e a Morte
IMPERMANÊNCIA – A morte pode ser lidada melhor com o mindfulness? Tanto a nossa morte, quanto a de nossos amados?
“Sim”. Porém, se você está no começo do treino de mindfulness, é melhor você primeiro encontrar um espaço de tranquilidade e clareza dentro de si para poder lidar com essas questões. Os benefícios iniciais são redução do estresse, aumento da concentração e melhora nas relações.
Claro que isso, por si só, já tem um impacto positivo e ajuda você a lidar melhor com a morte e a impermanência. Você está mais em uma postura de centramento e clareza do que em uma postura reativa.
Mas isso é só o começo. Com o tempo, a partir dessa base de tranquilidade, você passa a desenvolver mais capacidade de insight, de compreensão sobre as situações.
Observando a Impermanência
Imagine uma lagoa, e no local está acontecendo um terremoto. A lagoa está agitada, e você pode jogar uma rocha de qualquer tamanho dentro da lagoa que você não conseguirá ver o efeito que essa rocha faz, pois o terremoto já está bagunçando tudo. Então, a primeira coisa é acalmar o corpo. Desenvolver tranquilidade e capacidade de perceber todos os fenômenos acontecendo. Experienciar todos os fenômenos, seja o blá blá blá mental, uma emoção, um barulho lá fora… Você desenvolve a capacidade de responder a todos os fenômenos com tranquilidade no corpo. E permanecer simplesmente na prática. Essa é uma habilidade que você vai desenvolver para a vida.
A partir do desenvolvimento da tranquilidade do corpo, vai acontecendo também uma tranquilidade mental, aos poucos, naturalmente. Imagine então que, sem o terremoto (seu corpo agitado) e sem agitação mental, quando a lagoa estiver calma, totalmente parada, você joga um grão de feijão e é capaz de ver todas as ondas concêntricas que aquilo provoca na água, em sua mente.
Esse desenvolvimento de tranquilidade no corpo e na mente permite a investigação, o insight. Permite a você experienciar fenômenos e perceber os impactos que eles causam em você e que eles causam nos outros, não só na prática, mas na vida. Porque você está cada vez mais experienciando as coisas a partir desse estado de ser tranquilo, centrado.
E, conforme sua investigação vai se aprofundando, ao longo da vida inteira, você começa a entender um pouco melhor as leis universais e, assim, se aproximar e se familiarizar com elas, e perder o medo. Você entende que este corpo vai se desintegrar. É o destino dele. Você não está mais evitando isso, mas está se familiarizando com isso e compreendendo que isso é inevitável, pois esse é o único caminho.
Se você evita isso a vida inteira, como nessas histórias que todos já ouvimos, do velhinho que tem 90 anos e começa a falar em morte, e o familiar fala “pai, para de falar disso, que coisa!”… A morte é algo muito real para uma pessoa de 90 anos! Como não falar disso? E é da mesma forma para todos nós, pois não sabemos se estaremos aqui amanhã. Essa é a realidade da existência.
Nada se cristaliza neste universo de impermanência constante
Nada é possível se cristalizar e parar só porque “eu quero que seja assim, eu gosto que seja assim, não quero que seja de outro jeito”. Agindo assim, estou gerando meu próprio sofrimento. Se eu reconheço que todos os fenômenos, tudo, absolutamente tudo é livre em sua própria base, ou seja, está constantemente mudando, mesmo para o que eu penso que é sólido já existe uma certeza de que aquilo um dia não vai mais existir.
Toda a manifestação da diversidade no mundo, das diferenças no mundo, da evolução criativa do universo e das espécies só é possível porque todos os fenômenos são livres em sua própria base. Eles jamais cristalizam, pois o universo é mudança. E é uma coisa boa, se temos essa compreensão. É possível chegar até essa compreensão através do mindfulness.
Sim, é triste perder alguém querido. Mas, com o mindfulness, podemos compreender a perda mais profundamente. E a compreensão é o que tira o medo, os preconceitos, é o que nos dá realmente liberdade.
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