03 ago Onde termina a autocompaixão e começa o egoísmo?
É possível detectar a fronteira que divide a autocompaixão e o egoísmo? Rita Kawamata, instrutora e sócia fundadora da Assertiva Mindfulness, responde a essa pergunta de um aluno na Live de maio/2018, através de histórias ilustrativas mostrando três situações diferentes relacionadas a compaixão e autocompaixão.
Inicialmente, Rita comenta uma passagem do livro “10% mais feliz”, em que Dan Harris, jornalista norte-americano, em entrevista a S.S. o Dalai Lama, expõe seus questionamentos sobre a meditação da compaixão, ao que Dalai Lama responde de forma surpreendente e provocativa: o ser humano é naturalmente egoísta, mas sabemos, através de pesquisas cientificas, que a compaixão nos faz bem; então você vai querer ser um egoísta esperto ou um egoísta bobo? Dan Harris entendeu que a meditação da compaixão beneficia todos os seres, inclusive quem a pratica, e assim se convenceu a praticá-la. Rita recomenda a leitura do livro para saber mais como essa prática passou a fazer parte da vida do jornalista e a influenciar cada interação que ele tinha.
Cuidar de si mesmo é um ato de egoísmo ou autocompaixão?
Rita também relata a história de uma amiga próxima, que em certa ocasião acompanhou por um bom tempo o filho pequeno internado no hospital. Após uma jornada de noites mal dormidas e muito estresse, essa mãe, em uma das saídas do hospital, foi a um salão de cabeleireiro onde pediu: “Por favor, eu quero me sentir bonita, quero me sentir bem”. Rita questiona: será que esse foi um ato de egoísmo ou de autocompaixão?
O terceiro elemento que Rita trouxe para a conversa é uma citação de Dipa Ma, uma mestra de meditação nascida em Bangladesh que passou por grandes desafios em sua vida e afirmava que, na experiência dela, não existia diferença entre Mindfulness e a bondade amorosa. A prática da atenção plena trouxe para ela bondade. Mindfulness, além de ser um treino da atenção, é uma forma natural de desenvolver empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Com a prática, torna-se mais fácil perceber o sofrimento ou a confusão pela qual o outro está passando, mesmo em momentos em que ele nos magoa ou machuca, e querer pôr fim ao sofrimento, e isso é compaixão.
Compaixão e autocompaixão
Existem dois termos: compaixão e autocompaixão? Ou trata-se da mesma experiência? Temos mais elementos comuns do que elementos de ruptura? Através da prática de Mindfulness, torna-se mais fácil perceber que, assim como nós sofremos, o outro também sofre, mas as formas de reagir são diferentes. Uns se fecham, outros se abrem, se tornam agressivos, etc., mas a experiência de estar em contato com o desconforto ou sofrimento é a mesma para todos, bem como a vontade de sair do sofrimento também é comum, porém cada um faz as escolhas de como reagir ou agir. E agir com mais mindfulness, mais atenção e consciência, geralmente traz mais benefício não só a si mesmo como também aos demais.
A compaixão se expande e se torna imensurável
Na tradição contemplativa oriental, de onde o Mindfulness surgiu, existe um conjunto de meditações chamado de “Quatro Imensuráveis”, que focam em quatro sentimentos ou qualidades (amor, compaixão, alegria empática e equanimidade). Os quatro são expansivos e ultrapassam a barreira do individualismo. Levando em conta a ótica dessa tradição, nos cursos de Mindfulness partimos do pressuposto de que a compaixão é a inclinação natural que o ser humano possui de notar que existe um sofrimento e querer fazer algo para eliminá-lo.
Ao se expandir, a compaixão ultrapassa a barreira do “eu com a minha experiência” e “o outro separado de mim”. A compaixão abole barreiras, e então não existe autocompaixão. Dentro desse contexto, podemos ver somente a compaixão, pois a autocompaixão já existe dentro dela.
Para você transbordar você precisa estar cheio
Observando uma prática de meditação da compaixão estruturada, percebemos que ela inicia em nós mesmos, preenchendo cada parte de nosso ser, e depois ela se expande para todos os seres, começando pelos mais próximos, seguindo para os que amamos, depois para os que nem conhecemos e eventualmente seguindo para até aqueles com quem temos alguma diferença. Estando plenos, banhados na autocompaixão e deixando a compaixão se expandir, fluir, e chegar a todos os seres.
Porém existem pessoas que acreditam que precisam sofrer. Suas crenças limitantes a impedem até mesmo de praticar, conforme vemos nos cursos de Mindfulness. São pessoas que enxergam diversas razões para não praticar, não meditar. Então nos cursos de 8 semanas mostramos como é possível se perceber diariamente, tirar um tempinho do seu dia para se observar sem julgamentos e iniciar esse encontro com a compaixão.