25 ago O que as pessoas buscam no mindfulness
As motivações para alguém chegar a um curso de mindfulness podem ser bem variadas. O que se destaca são as muitas pessoas que procuram os nossos cursos de mindfulness para resolver questões relacionadas com a ansiedade. São pessoas que se sentem sobrecarregadas, com tarefas demais para realizar e resolver na rotina diária. Acordam já com a lista de tarefas na mente e vão dormir com a lista de tarefas que não foram cumpridas e ficaram para o dia seguinte. A mente está o tempo todo se projetando para o futuro ou para o passado, para o que deverá acontecer depois ou o que (não) aconteceu antes.
Essas (pré)ocupações ou (pós)ocupações estão relacionadas com diversos tipos de transtorno de ansiedade – a mente está o tempo todo no blá-blá-blá continuo, sem descanso. A sensação é de que dormimos, mas acordamos cansados, lidando com tudo aquilo de que não conseguimos dar conta. Soma-se a isso o excesso de informação. Recebemos uma avalanche de estímulos – redes sociais, computadores, outdoors, ruídos – e não conseguimos decodificar, armazenar ou compreender tudo isso.
Esse é o principal motivador para as pessoas procurarem os cursos de mindfulness.
Os cursos também são procurados por pessoas com depressão e por outras questões diversas, como concentração, foco, organização. Há também quem queira melhorar as relações com os outros – se percebem muito reativos, reagindo às situações de forma automática, sem pensar. Existem também aqueles que conhecem a origem do mindfulness e querem se aprofundar em autoconhecimento e autopercepção. E ainda outros que desejam melhorar seu desempenho.
As pessoas chegam nos cursos de mindfulness procurando descanso para a mente, redução do estresse, tranquilidade, concentração, e elas acabam encontrando muito mais que isso. Mindfulness não é apenas um treino de atenção, como as pessoas comentam por aí: “ATENÇÃO plena! Agora ficarei o tempo todo atento, hiperatento, não vou desfocar, serei superprodutivo”. Não é isso!
Em mindfulness, nós realmente treinamos manter a nossa atenção, momento a momento, ao que está acontecendo tanto internamente (corpo, emoções, pensamentos) quanto externamente (pessoas, relações, ambiente). Mas é muito mais que isso! Essa atenção é a base que construímos para trabalhar diversas outras questões. Então o mindfulness é um treino de atenção, mas é também um treino de INTENÇÃO. E que intenção é essa?
Por exemplo, pensemos em mindfulness da respiração. Você se coloca sentado, em uma postura de dignidade e clareza, atento, experienciando o corpo vivo respirando. De repente, começam os pensamentos – um sendo puxado pelo outro, em uma corrente que parece interminável. Logo que percebe que a sua mente divagou, você aciona um segundo treino de atenção (metacognição): perceber o seu próprio comportamento mental. E, nesse processo, às vezes também é possível perceber o comportamento emocional.
Em um workshop que ministrei em uma empresa, um participante comentou que, durante a prática, “foi” até a casa dele, brigou com a filha e “voltou”. Essas ações aconteceram somente na divagação da mente dele, mas a sensação que ficou no corpo foi de irritação pela briga imaginária!
Com a prática de mindfulness, é possível perceber essas divagações e, voluntariamente, estabelecer a mente/corpo no mesmo espaço de tranquilidade, clareza e centramento que o praticante desenvolve estando atento ao seu corpo respirando. É um ato intencional, como se você estivesse voltando – mas a verdade é que você nunca saiu, seu cérebro e seu corpo estavam lá o tempo todo, só a mente que divagou!
O treino ajuda a ampliar essa habilidade inata do ser humano de, por sua própria vontade, perceber quando a mente divaga e as emoções que podem vir com isso e se colocar em um espaço de tranquilidade e clareza a partir do qual experiencia o que estiver surgindo.
Em um exemplo prático, imagine uma pessoa que se irrita facilmente com alguém que fala demais. Ela pode considerar esse outro extremamente irritante. Certamente existe outra pessoa que adora esse alguém que fala muito. O que é irritante, então? É realmente a pessoa que fala demais, ou se trata apenas de um hábito condicionado de reação, possivelmente aprendido na infância. A pessoa que se irrita talvez nem saiba o porquê de a irritação acontecer. Talvez o pai dela tenha sido alguém que se irritava com pessoas que falavam muito, e, quando criança, ela aprendeu a imitar esse comportamento, que carrega consigo até hoje!
Por meio do treino de mindfulness, desse movimento de manter a atenção a todo momento ao que está acontecendo, internamente e externamente, e voluntariamente continuar atento ao seu corpo vivo, respirando, identificamos esse espaço centrado, de consciência da experiência, onde não é preciso colocar os “óculos” de irritação, de tristeza, de ansiedade ou o que for e enxergar o mundo através dessas lentes. Reconhecemos as emoções, reações e pensamentos como aspectos a considerar, e não como a realidade em si. E nos mantemos na consciência do que estiver acontecendo: “Está acontecendo irritação agora, e ISSO está gerando esta história que eu estou contando para mim mesmo, como se fosse uma grande verdade.”.
Assim, você também está treinando uma atitude especial em relação ao mundo, seja interno ou externo: mantendo a ATENÇÃO, com a INTENÇÃO de se colocar nesse espaço de tranquilidade e clareza e com a ATITUTE de reconhecer a realidade como ela é. Para você adquirir uma nova forma de experienciar as circunstâncias momento a momento, nesse espaço de consciência, clareza e tranquilidade, é preciso ir soltando os padrões de comportamento com os quais você se identifica. Mesmo que, muitas vezes, não goste deles, esses padrões são um espaço conhecido, você já sabe o que esperar deles – e agora, precisará mergulhar no desconhecido, no novo. Em uma atitude de generosidade, de reconhecimento de como as coisas são novas a cada momento, em vez de rotular de imediato.
Imagine uma mãe vendo o seu bebê no berço, que começa a chorar. A mãe não sai correndo, fecha a porta e some. E nem se deita no chão e começa a gritar como o bebê. O que geralmente acontece é que a mãe pega o bebê no colo e olha para ele. Às vezes, só esse gesto já é suficiente para acalmar o bebê. Mesmo quando o bebê não se acalma ao ser colocado no colo, a mãe, ao se manter consciente do que está acontecendo, em vez de rejeitar a realidade do choro do bebê como algo que não deveria estar acontecendo ou “pegar carona” e transformar o seu próprio mundo em choro, tem mais chances de entender o que acontece e fazer algo a respeito.
No treinamento em mindfulness, estamos fazendo exatamente a mesma coisa com a nossa mente, o nosso corpo e as nossas emoções. Paramos e olhamos para a experiência, desenvolvendo mais clareza para tomar decisões melhores a cada momento de nossa vida.
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